Esta semana foi bastante polêmica no Brasil. Na verdade, os últimos dois anos estão bem complicados para os brasileiros. Porém, em meio ao caos do cenário político e econômico do país, e as notícias sobre a operação Lava Jato, a queda ou não do presidente Michel Temer, mais delações, mais denúncias de corrupção, queda da bolsa e alta do dólar, uma festa escolar chamou a atenção da mídia: um recreio temático com o tema “Se nada der certo”.
Nesta comemoração, os alunos se vestiram com roupas características de profissões que eles consideram alternativas na vida de quem nada deu certo. Os estudantes são formados do terceiro ano de colégios particulares da região Sul do Brasil. Segundo as instituições, o tema era refletir o caminho e a carreira que os jovens teriam caso não passassem no vestibular.
A polêmica começou quando fotos da festa se espalharam pela internet e causaram alvoroço e divulgação instantânea, pois eles estavam caracterizados de garis, vendedores de loja de shopping, revendedores de cosméticos, faxineiras, atendentes do McDonalds, motoboys, garçons, caixas de supermercado, cozinheiros, churrasqueiros, mecânico, dentre outros. Esta atitude levantou diferentes debates no Brasil, sobre meritocracia, privilégio, desigualdade social e diversos outros fatores.
Onde o Canadá entra nessa história? Pois bem, além de muitas outras coisas que devem ser vistas e pensadas por quem quer vir morar no país, uma das primeiras é abrir a cabeça e estar livre de preconceitos e pré-conceitos. Somado aos costumes e cultura completamente diferente, um país desenvolvido possui menos desigualdade social e, o que é encarado como “se nada der certo” ou “subemprego” no Brasil, é ter dado certo e ter uma vida bastante confortável no Canadá.
Levando em consideração que estudar em uma das escolas particulares, sejam elas de instituições religiosas ou não, é uma realidade da minoria brasileira. Ou seja, essa pequena parcela da população não representa a situação econômica da maioria do povo. Para ilustrar a afirmação, um dos dados mais indicados é a renda per capita dos habitantes do país, que é a medida de quanto cada cidadão ganha por ano. A brasileira gira em torno de $9 mil dólares americanos, o que é muito pouco comparado aos países desenvolvidos.
Mas nem tudo está perdido: segundo um estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), 44% dos alunos do Brasil na faixa etária dos 15 anos já trabalham. Esse número é superior a de países como os Estados Unidos, por exemplo, onde a porcentagem de adolescentes que já entraram no mercado de trabalho é de 32%. A explicação para isso é a necessidade que os estudantes possuem. Enquanto no Canadá ou nos EUA o fruto do trabalho vem para proveito do próprio aluno ou para somar ao dinheiro destinado a faculdade, que por sinal é uma prática comum, principalmente em trabalhos sazonais, como vagas abertas apenas para o verão, por exemplo, no Brasil os estudantes precisam trabalhar, muitas vezes, para compor a renda familiar e ajudar no sustento da casa. Obviamente que isto não é uma regra, mas é visto na maioria dos casos.
Além disso, o país ainda possui a cultura do “subemprego”. Trabalhar como faxineira, caixa de supermercado, ou atendente do McDonalds é considerado como última opção, ou trabalhos para quem precisa se sustentar e não tem condições de estudar e garantir um futuro melhor. O motivo é simples: quem trabalha como atendente de redes de fast-food, por exemplo, ganhando um salario mínimo ou pouco mais que isso, não consegue ter uma vida confortável e muito menos pagar uma escola particular católica para os filhos. A realidade é que o valor passa longe de pagar todas as obrigações da casa, quando o salário mínimo atual é de R$ 937,00.
Diferente do Brasil, a economia do Canadá é estável e desenvolvida. Para os que querem morar aqui, a primeira coisa é ter a mente aberta e abandonar velhos conceitos brasileiros. Um deles está relacionado aos “subempregos”, pois no país este termo não existe e será uma ofensa caso uma pessoa use este termo em inglês referindo-se a um atendente do Tim Hortons, por exemplo, que é a cafeteria e loja de donuts mais famosa por aqui (para mais informações sobre essa e outras tradições gastronômicas do país, clique aqui).
Em um país onde a renda per capita do indivíduo gira em torno de $43 mil dólares americanos por ano e o salário mínimo, que varia de província para província, mas é em média de $1.800 dólares canadenses (CAD) por mês para quem trabalha em período integral, as faxineiras, que ganham por hora e têm sua mão de obra valorizada, conseguem ter uma vida confortável e, por diversas vezes, ganhar até mais do que quem trabalha em um escritório.
Devemos também levar em consideração que o país possui saúde pública de qualidade e os planos privados se limitam às especialidades não oferecidas pelo governo: oftalmologia, odontologia e fisioterapia. O Canadá também tem seu sistema de ensino bom e gratuito, portanto os pais não precisam se preocupar em guardar dinheiro para as escolas particulares (para saber mais, acesse https://www.immi-canada.com/adaptacao-dos-filhos-na-escola-canadense/). Quando adolescentes, os próprios alunos, em conjunto com a escola, desenvolvem atividades e trabalham para arcar com custos relacionados a viagens escolares, por exemplo.
Ademais, o país também é seguro, se comparado ao Brasil. Não, não existe perfeição, aqui também existem assaltos e homicídios. Mas os dados não mentem. Recentemente, a revista Exame divulgou números que, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, 3,4 mil pessoas foram assassinadas no país a cada três semanas no ano de 2015. Enquanto isso, em todos os atentados terroristas do mundo que aconteceram nos cinco primeiros meses deste ano, morreram 3.314 pessoas. Na comparação, a taxa de homicídios do Brasil fica em cerca de 29 assassinatos para cada 100 mil habitantes, enquanto no Canadá o número é de 1,6 crimes dessa natureza para a mesma quantidade populacional, ou seja, cerca de 28 vezes menor.
Um ponto importante, é que a infraestrutura do país também é satisfatória. Isso se dá pela baixa corrupção, que faz com que os impostos que a população paga sejam aplicados da maneira como eles devem ser: infraestrutura, saúde, segurança, educação, meio ambiente e enfim, melhorias para a sociedade como um todo. Só para se ter uma ideia, as estradas canadenses não são pedagiadas.
Então, se tudo der certo, e com planejamento e ajuda de um profissional as chances sempre aumentam muito, a tão sonhada qualidade de vida canadense pode virar realidade.
Fontes:
https://www.uol.com.br/
https://extra.globo.com/noticias/brasil/se-nada-der-certo-jovens-se-fantasiam-de-faxineiro-mecanico-ambulante-em-festa-escolar-21437203.html
http://www.huffpostbrasil.com/2017/06/05/estudantes-fazem-festa-com-tema-se-nada-der-certo-e-se-fantasi_a_22126349/
http://super.abril.com.br/blog/alexandre-versignassi/se-tudo-der-certo-o-brasil-sera-da-molecada-que-trabalha/
http://www.statcan.gc.ca/eng/start
http://exame.abril.com.br/brasil/em-3-semanas-mortes-no-brasil-superam-vitimas-de-ataques-em-2017/
http://www.statcan.gc.ca/pub/85-002-x/2016001/article/14668-eng.pdf
Fabíola Cottet