Empresas canadenses no setor de tecnologia estão enfrentando um verdadeiro impasse na contratação de talentos estrangeiros. Por conta disso, estão pressionando Ottawa para modificar algumas regras no setor de imigração para facilitar a contratação de mão de obra qualificada vinda de outros países.
Segundo esses empreendedores de empresas start-up, o sistema de Express Entry implementado pelo governo em 2015 se mostra muito rígido, e deixam esses empregadores esperando até seis meses para descobrir se poderão ou não trazer esse talento de fora para dentro do Canadá. Segundo Tobi Lutke, CEO do software Shopify Inc., “isso nos traz grande desvantagem quando buscamos recrutar trabalhadores estrangeiros”.
Sob as mudanças políticas decretadas pelos Conservadores, empregadores devem agora validar uma oferta de trabalho por meio da aprovação feita pelo governo do “Labour Market Impact Assessment” (LMIA), mostrando que não conseguiram encontrar canadenses para o trabalho. Enquanto isso auxilia combater aqueles que abusam de trabalhadores temporários no país, acaba por prejudicar empresas de tecnologia que estão crescendo rapidamente, pois muitas das vezes em que submetem uma aplicação para o governo acabam recebendo respostas negativas de Ottawa, dizendo que deveriam contratar canadenses.
“É uma abordagem equivocada”, diz Sarah Anson-Cartwright, diretora de políticas imigratórias na Câmara de Comércio Canadense.
O ministro de imigração John McCallum não estava disponível para conferir comentários. Porém, um porta-voz do departamento disse que o governo planeja rever a plataforma do Express Entry para “verificar se poderá ser melhorada para imigrantes em potencial como executivos estrangeiros de alto nível. Essa revisão irá abranger, entre outras coisas, o requerimento do LMIA”.
As empresas de start-up dizem que as regras não apenas causam atrasos, mas também possuem a uma falta de transparência e consistência, impondo burocracia desnecessária. Em muitos casos, recrutas acabam por aceitar outras ofertas de emprego ao invés de esperar. No caso de estudantes internacionais esperando por suas ofertas de trabalho, muitos acabam tendo de deixar o país quando seu visto vence.
Seis de dez empregadores entrevistados pelo CERC (Canadian Employee Relocation Council) no ano passado, disseram que as mudanças imigratórias acabaram impedindo suas estratégias de planejamento e recrutamento. Um a cada seis optou por criar os empregos no país de origem daqueles que gostariam de contratar para trabalhar no Canadá.
Na semana passada a empresa de software Figure 1, que permite que médicos compartilhem fotos entre si, tiveram de deixar passar a oportunidade de contratar um “ótimo candidato” vindo da Europa, “devido ao fato de terem de passar por esse processo longo de LMIA”, disse o CEO da empresa, Greg Levey. “Esse indivíduo poderia ter liderado toda nossa iniciativa aqui. Mas já passamos por isso antes”.
Em uma instância anterior, Figure 1 tentou contratar uma americana com muita experiência em desenvolvimento de business, porém em Novembro de 2014 o governo negou a aplicação por não aparentar haver escassez nessa profissão. A companhia acabou por contratá-la mesmo assim, mas em Nova Iorque. Agora ela dirige o escritório dos Estados Unidos, que cresceu muito nos últimos tempos, contando hoje com 35 empregados e com a perspectiva de contratar mais 12 pessoas até o fim do ano. “Esse não era nosso plano”, disse Mr. Levey, “porém esse foi o resultado na rejeição da aplicação que recebemos do governo canadense”. “Se temos os melhores profissionais do mundo querendo vir para o Canadá, por que estamos impedindo isso?”
A plataforma do Express Entry foi trazida após o problema de trabalhadores temporários ter virado uma “batata quente” em 2013 nas mãos do governo dos Conservadores. Empregadores estavam sendo acusados de abusar do sistema ao contratar mão de obra estrangeira, pagando a esses trabalhadores um salário inferior ao que pagavam aos canadenses.
Porém, “o governo acabou fazendo escolhas que sacrificam a eficácia da plataforma”, disse a câmara de comércio em um relatório emitido em janeiro.
Defensores do setor de tecnologia esperam que o governo - que tem prometido uma "agenda de inovação" - irá abordar suas preocupações. "Eu realmente espero que haja mais diálogo com o governo [este ano] em torno dessa agenda, e também que seja abrangido o talento estrangeiro e a imigração", disse Iain Klugman, CEO da agência de apoio à indústria de tecnologia Communitech, em Waterloo, Ontário.
Stephen Cryne, CEO da CERC, disse que o governo poderia abordar muitas preocupações com mudanças simples, não legislativas, incluindo a criação de um programa de empregador confiável para permitir que os empregadores acelerem aplicações e deixem de lado a necessidade de LMIAs. Isso "iria melhorar as coisas de forma significativa para os negócios", disse Stephen.
"Estamos desapontados que não houve destinação de recursos [no orçamento] para melhorar os programas económico-migratórios do Canadá, ou desenvolver programas que atraem trabalhadores altamente qualificados", disse Cryne.
McCallum disse recentemente que o Canadá planeja aceitar 300.000 imigrantes em 2016 - um aumento de 7 por cento se comparado a 2015 – porém aceitará apenas 160.600 imigrantes econômicos, comparado aos 181.300 do ano passado.
Fonte de pesquisa: www.theglobeandmail.com