O sonho canadense tem se tornado cada vez mais desejável entre brasileiros em busca de uma vida melhor no exterior. O Ministério de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá estima que o número de brasileiros autorizados a residir de forma permanente no país vem crescendo. Em 2011, foram 1.508; em 2012, 1.642; em 2013, 1.714; e, em 2014, 1.915. No entanto, o Statistics Canada estima que cerca de mais de 30 mil brasileiros residem de forma temporária no país hoje.
Mas nem tudo são flores e sonhos. Para os recém chegados, existem vários desafios ou barreiras que precisam ser ultrapassadas, afinal de contas, morar em outro país requer planejamento, coragem, dedicação e flexibilidade para se adaptar em culturas e ambientes completamente diferentes aos quais estamos acostumados no nosso país de origem. Hoje, elenco dez desafios que os brasileiros podem enfrentar ao chegar em solo canadense, confira abaixo.
Por mais que o seu inglês e/ou francês estejam fluentes (segundo o site do governo do Canadá, o inglês é a língua materna de 58% dos canadenses e o francês, de 22% da população,17,5% das pessoas se alfabetizou nos dois idiomas), nunca serão a sua língua materna. Tarefas cotidianas passam a exigir um esforço mental devido à língua: pedir um táxi, se comunicar no trabalho ou na faculdade, pedir comida e até mesmo uma informação sobre qual ônibus pegar pode se tornar um monstro se o domínio do idioma não for, pelo menos, intermediário.
Somado a isso, o Canadá é um país de imigrantes, o que pode tornar a comunicação cheia de sotaques e ruídos. São pessoas do mundo todo, com inglês ou francês como segunda língua, o que pode ser um teste de paciência e compreensão, muitas vezes.
Sim, aqui é o “True North” (verdadeiro Norte, como os canadenses gostam de chamar) do planeta, ou seja, as temperaturas médias variam entre 35°C no verão e -25°C noinverno. Isso não quer dizer que sejam as mínimas e máximas. Em cidades situadas mais ao Norte do país, não é incomum termos temperaturas de -45°C no inverno.
Para nós, brasileiros acostumados com temperaturas amenas o ano todo, pode ser uma barreira imensa. O ideal é pesquisar bastante sobre o lugar onde deseja morar e vir preparado para um inverno atípico e frio: casacos e botas para neve, gorros, cachecóis, meias térmicas, luvas e protetores de orelhas são itens essenciais a serem adquiridos aqui para quem vai passar a estação. O ponto positivo nessa questão é que os lugares são preparados para o frio e para o calor, tendo calefação e ar condicionado em todos os ambientes.
Cada lugar do mundo tem seus costumes, crenças e maneiras comuns de se lidar com situações. Aqui não é diferente. O choque cultural de um brasileiro que chega ao Canadá sem antes ter pesquisado um pouco sobre a cultura do país pode ser grande. Existem particularidades com as quais não estamos acostumados. Exemplo disso é a maneira de se cumprimentar e a distância com que as pessoas fazem isso. No Brasil, nós nos abraçamos, trocamos beijos na bochecha e tapinhas nas costas. Aqui, se você estiver cumprimentando um canadense, nem pensar. Para não correr riscos, o melhor é somente um aperto de mãos amigável caso você não tenha grande intimidade com a pessoa. Eles costumam ser mais distantes e reservados nos seus contatos, o que não é bom e nem ruim, apenas diferente.
Outro exemplo clássico de choque de culturas é o lema do “do it yourself” ou “faça você mesmo”. Não estranhe se você chegar em um primeiro dia na faculdade ou curso para se matricular e a pessoa para lhe atender te colocar em frente ao computador e pedir que você mesmo faça. Por ser um país desenvolvido onde a mão de obra é valorizada, ninguém faz por você o que você mesmo pode fazer. Aqui você limpa a sua casa (empregadas e diaristas são bem raras e caras), abastece seu carro, limpa o seu jardim e leva o seu lixo.
Quem muda de país tem que estar preparado para lidar com um dos desafios mais difíceis: a distância e saudade da família e amigos. Por mais que você viaje com companheiro(a) e filhos, alguém sempre deixa saudades no Brasil: pais, irmãos, sobrinhos, avós e até bichos de estimação.
A tecnologia ajuda a amenizar a distância, pois hoje podemos fazer vídeo chamada a qualquer hora pelo Facebook, Skype e WhatsApp. Mas mesmo assim é uma barreira difícil e dolorosa a ser superada. Quem está disposto a passar um tempo fora do país ou imigrar, tem de ter em mente que a saudade será uma constante na vida e aprender maneiras de lidar com ela.
Qual brasileiro não gosta de arroz e feijão? Pois é, embora a maioria dos mercados tenha esses dois produtos por aqui (muitas vezes mais baratos que no Brasil) e panela de pressão não seja o item mais difícil de comprar, as diferenças de costumes alimentares são grandes. Não estou falando a respeito de ingredientes, mas da maneira como os canadenses comem.
Um fator bem importante aqui é que o almoço não é a refeição mais importante do dia, como para nós, brasileiros. Aqui a hora do meio dia vira um lanche ou algo rápido de se comer em 15 minutos ou meia hora no máximo. O jantar é algo extremamente importante e costuma ser servido às 18h, bem mais cedo que no Brasil (aqui o dia começa antes e costuma terminar mais cedo). Outro costume é a marmita. Em todos os lugares você verá pessoas abrindo a mochila e tirando potinhos com refeições ou lanches durante o dia. Nos locais públicos, empresas privadas, escolas e instituições, o micro-ondas fica acessível e é super utilizado por todos.
Esse é um ponto que pouco pesquisamos antes de chegar aqui, mas faz toda a diferença no dia a dia. O acesso aos serviços básicos pode ser burocrático e difícil nas primeiras vezes, pois as leis, permissões e órgãos reguladores são diferentes. Assim que chegamos, os primeiros passos foram fazer os documentos canadenses: ID (o nosso RG do Brasil), drivers license (carteira de motorista), student ID (carteira de estudante quando se aplica) e o cartão de saúde pública. Em cada província estes processos são diferentes e têm características próprias, o que demanda muita pesquisa e, muitas vezes, auxílio de um profissional qualificado.
Outro exemplo que pode ser um desafio é o acesso aos produtos e leis. Bebidas alcóolicas aqui, por exemplo, são vendidas em lojas especializadas, ou seja, você não encontra em mercados, postos de gasolina e lojas de conveniência como no Brasil. Para comprar bebidas e cigarros, você precisa ter mais de 21 anos e não é incomum o vendedor pedir seu documento.
As leis de trânsito também são diferentes, tanto para motoristas quanto para pedestres, o sistema de transporte coletivo difere do Brasil, a coleta de lixo tem suas características próprias, as consultas médicas são realizadas de outra maneira e o horário de funcionamento de bares e baladas é outro. Enfim, são serviços que você irá utilizar um dia ou outro e vai precisar estar atento às particularidades de cada um.
O primeiro emprego no Brasil é sempre um desafio, imagine isso multiplicado por 10 vezes em um país que não é o seu, onde você não tem experiência e histórico de trabalho. Muitas vezes, além de pesquisa você vai precisar de ajuda de um profissional para montar o currículo no padrão canadense, achar vagas que estejam de acordo com o seu perfil e saber onde e o que procurar.
Outro ponto importante, caso você queira trabalhar em uma profissão regulamentada aqui, é saber como reconhecer seu diploma e em quanto tempo você conseguirá fazer isso. Tenha em mente que é um renascimento em todos os sentidos. O primeiro emprego requer pesquisa, paciência e persistência.
Para os que vêm ao país com o intuito de estudar, tem de estar habituados ao sistema de ensino canadense. Os cursos de inglês aqui, para estrangeiros, geralmente têm frequências diárias e um ritmo bastante “puxado”.
Quando se fala em college, o desafio é ainda maior. O ensino superior para estrangeiros é full time (ou seja, integral) e, muitas vezes, os horários ocupam boa parte da manhã e da tarde, além de tarefas, estudos e trabalhos no contraturno. Esteja disposto a se dedicar bastante, pois além do conteúdo, temos que pensar que todo ele é ministrado em inglês ou francês, o que exige um esforço extra de concentração.
Começar a vida em um novo país exige um lugar para morar. Desde um Airbnb para passar alguns dias até um apartamento para ficar durante longos períodos, pode virar um problema quando você não conhece as regiões e não sabe dos pormenores para alugar um local para ficar. Para curtos períodos, o melhor é uma homestay (casas de família que hospedam pessoas) ou um quarto. Nestes casos o processo costuma ser um pouco mais fácil. No caso da homestay ela geralmente é adquirida com o pacote de intercâmbio e um quarto exige menos burocracia.
Quando o período requer um lugar mais estável, pode ser uma complicação no início. Aqui é bastante comum os locadores exigirem uma carta do empregador, histórico de crédito, aplicação e pagamento do primeiro e último aluguel no ato do fechamento do contrato. A burocracia é ainda um pouco menor que no Brasil, que costuma exigir fiador e uma quantia alta como depósito de segurança, a diferença é que no Brasil já temos um histórico, coisa que não acontece aqui. As vezes, o locador pede extratos bancários na falta de carta de empregador e histórico. O que pode ser exigido também, aos recém chegados, é um depósito de segurança maior que o praticado ou mais meses pagos antecipadamente. É essencial estar prevenido caso isso seja um pré-requisito no imóvel que você pretende alugar.
Esteja preparado para gastar um pouco mais do que o planejado no começo. Imigrar requer muito planejamento financeiro e a nossa moeda é desvalorizada perante ao dólar canadense. Tenha sempre em mente que no início, quando a intenção é passar longos períodos aqui e você ainda não recebe em CAD (dólar canadense), um dólar requer, no mínimo, 2,50 reais.
Todos os processos, desde fazer documentos, estudar e alugar um local para morar exigem pagamentos de taxas, extras muitas vezes não previstos e o pagamento do serviço ou produto em si. Além disso, não podemos esquecer que aqui os preços são acrescidos dos impostos, ou seja, o preço final de um produto ou serviço tem ainda um acréscimo de até 13%, dependendo da província, que é o imposto federal e estadual cobrado. Perante tudo isso, é importante ter uma reserva de dinheiro.