“Paulo foi quem me viu nascer e me criou dentro de sua imensa casa
Dizia ele que aquela casa era também toda minha, mas
Paulo era violento e me cercava de medo por todos os lados
Dizia ele que eu era livre para fazer o que quisesse, mas
Paulo era controlador e abusivo, tirava de mim tudo que podia
Meu dinheiro, minha alegrias e até as horas do meu dia
Dizia ele que me oferecia tudo que eu (achava) que queria
Eram presentes, cinema, teatro e jantares
E por isso muitos diziam que eu era ingrata e
Paulo, um Santo
Até que um dia, com muita coragem, eu disse:
Adeus São Paulo! “
- (Maythe Panar, 2014)
Esse é um trecho de um poema escrito por mim ao deixar São Paulo, cidade onde nasci, cresci e vivi até um pouco mais de um ano atrás, antes de me mudar para Vancouver no Canadá. O poema traduz um pouco das frustrações que não mais me permitiam amar incondicionalmente (como já o fiz um dia) aquele lugar. Frustrações que felizmente me fizeram questionar quase que todas as escolhas que estava vivendo naquele momento.
Acredito que muitas vezes a gente vive na inércia da vida, deixando o tempo lentamente nos carregar nas costas e permitindo que as expectativas alheias (da família, amigos, e sociedade) disfarçadas de escolhas, definam quais são nossos próprios objetivos. Qual faculdade vai fazer? Qual empresa vai trabalhar? Comprou um carro? E o apartamento na planta? Quando é o casamento? Quando vêm os filhos? – Se você tem uma resposta para todas essas questões, e ainda nessa exata ordem, talvez seja hora de rever se seus objetivos foram mesmo escolhidos POR você (se sim, ótimo!) ou eles foram escolhidos PARA você e na estrada da vida você foi os recolhendo.
Em algum momento dentro da minha teimosa e inquieta mente capricorniana, percebi que talvez eu estivesse seguindo nessa mesma longa e entediante estrada, até que de repente, como se eu despertasse em um reflexo certeiro, peguei a primeira saída à direita e fui seguir em qualquer outra direção. Eu ainda não sabia, mas aquela direção apontava diretamente para o Norte, e a nova estrada me levava até o Canadá.
Os questionamentos, que outros e também nós mesmos nos fazemos, não acabam jamais. Porém, uma vez quebrada a expectativa “faculdade-trabalho-casamento-filho” as perguntas passam a ser finalmente sobre suas próprias vontades e sonhos . O que você vai fazer em outro país? Você quer morar ai para sempre? Como você se sente longe de todos? Por que você escolheu o Canadá? Mas, e por que Vancouver?
A última questão é certamente a mais fácil e gostosa de ser respondida. E por que Vancouver? Curiosamente, a cada vez que me faziam essa pergunta, ao longo do primeiro ano vivendo aqui, a resposta foi ficando mais longa e longa, como se cada estação do ano me desse mais um motivo para ser adicionado naquela lista de coisas fascinantes.
Já imaginou, algum dia, se apaixonar por uma estação do ano? Pois é, foi assim que a cidade roubou meu coração no primeiro minuto em que pisei em terras Canadenses. Foi avassalador, e eu completamente apaixonada, cega de amor pelo lindo Outono de Vancouver. Eram alaranjadas, amarelas e vermelhas folhas de Maple cobrindo árvores e calçadas, formando um magico tapete de cores dignas de um pôr do sol.
É realmente encantador como em Vancouver as quatro estações do ano são bem bem definidas; dá para sentir cada uma delas nascer, viver e adormecer em seu tempo certo. O inverno não é rigoroso, mas com possibilidade de inesperados flocos de neve em algumas noites mais frias. Tulipas são cuidadosamente plantadas pela cidade para celebrar a entrada da primavera, e o verão? Aqui se torna quase que nosso país tropical: tem calor, tem sol e tem praia!
Agora deixando um pouco esse romantismo de lado, o principal motivo pelo qual decidi que Vancouver seria a estrada da vida em que eu queria caminhar (e bem devagar), foi o que todos nós buscamos: qualidade de vida! É importante lembrar que esse termo “qualidade de vida”é muito subjetivo; o que atende minhas necessidades como o tal, pode não ser o mesmo para você.
Qualidade de vida, para mim, é viver em um lugar que proporciona segurança, oportunidades, respeito e igualdade entre as pessoas que ali vivem, contato com a natureza, com opções de lazer diversificado e acessível a todos; e essa é, ainda que superficialmente, a descrição de Vancouver.
Enfim, essa foi a cidade me conquistou, me inspirou, acolheu e me adotou. E entre tantos questionamentos, todas as respostas levavam até um só caminho: Vancouver!