Trânsito é trânsito, certo? O que pode haver de diferente? Todas as cidades têm carros, pessoas, ônibus... algumas não têm metrô, mas fora isso...
Errado. O trânsito pode sim ter diferentes facetas, algumas das quais nem sequer imaginamos, em diferentes lugares do mundo. E não estamos falando apenas de diferenças como o fato de os britânicos dirigem do lado “errado”. Estamos falando de costumes, de etiqueta e de cultura.
Apenas lembrando, nossa maior referência nesse texto é Vancouver, BC, mas pode valer também, claro, para outras cidades no Canadá =)
Carros
Quem já dirigiu nos Estados Unidos ou no Canadá com certeza notou algumas diferenças muito significativas em relação ao Brasil. Selecionamos duas como sendo as principais: a curva à direita e a preferência do pedestre:
Se você pretende virar à direita, a menos que haja uma placa especificando o contrário, não é preciso parar no sinal vermelho, desde, é claro, que não haja pedestres atravessando a rua, nem carros vindo à sua esquerda, que têm preferência, já que o sinal está verde para eles. Se estiver tudo calmo, você pode “furar o sinal” e virar à direita no vermelho. Isso é uma prática comum, e é parte do funcionamento do trânsito. Quem espera no sinal vermelho para virar à direita leva uma buzinada do carro de trás.
Além disso, é preciso parar para os pedestres (e também para os ciclistas!). Claro que em ruas movimentadas e no centro das cidades os pedestres têm seu próprio semáforo (que é respeitado, vamos falar disso mais adiante), mas em ruas mais tranquilas e quando não há semáforo para pedestres, é preciso dar a preferência caso um deles decida atravessar a rua. Mesmo que isso signifique perder a sua vez na rotatória.
Ah, é possível sim dirigir no Canadá com a CNH brasileira. No entanto, se você pretende ficar no país por um período maior de tempo, é importante se informar com o departamento de trânsito da cidade onde você está sobre a obtenção de uma carteira de habilitação canadense.
Ônibus
Todo mundo sabe como pegar um ônibus no Brasil. Você anda até o ponto, espera o ônibus chegar e... estende o braço, certo? No Canadá isso pode ser uma gafe, embora não seja nada grave. É que os canadenses não têm o costume de sinalizar para os ônibus pararem, já que os motoristas sempre param nos pontos se houver pessoas lá – ou se alguém de dentro do ônibus pressionar o botão sinalizando que deseja descer no próximo ponto.
O cobrador... não existe. Para pagar a sua passagem existem diferentes maneiras, mas, caso você não tenha já comprado um passe anteriormente, em algumas cidades os motoristas não dão troco. Isso é porque esses motoristas não têm acesso ao dinheiro, que é depositado diretamente pelo passageiro em uma espécie de cofre, que calcula o valor que aquela pessoa depositou e emite um bilhete, que então pode ser usado como “transfer”, ou seja, para pegar outro ônibus ou metrô, desde que se respeite o intervalo de tempo indicado no bilhete. Na dúvida, é só perguntar para o motorista como funciona. Eles estão acostumados a receber turistas e podem tirar as suas dúvidas.
Uma coisa muito interessante por aqui é a questão do respeito com o espaço alheio. Um ônibus canadense lotado é muito diferente de um ônibus brasileiro lotado. No Brasil, como nosso sistema de transporte público às vezes deixa a desejar, as pessoas tendem a aproveitar ao máximo o espaço disponível dentro de um ônibus, o que acaba gerando uma situação um pouco desconfortável. No Canadá não tem disso. Embora possa sim acontecer de os ônibus atrasarem (mesmo que isso seja raro), não há motivo para pânico, e o “lotado” daqui é um conceito que, para quem já andou de ônibus no Brasil, nem se compara. Além disso, é o motorista quem tem a palavra final. É comum, nos horários de pico, ouvir o motorista pedir as pessoas irem mais para o fundo do ônibus, a fim de abrir espaço para que mais pessoas possam entrar. No entanto, chega um momento em que o motorista decide que o ônibus está cheio, e aí não há conversa. É preciso esperar pelo próximo.
Para descer do ônibus, quem abre a porta é o passageiro. Sim, você puxa a cordinha (ou pressiona o botão) para sinalizar que você pretende descer no próximo ponto, e, assim que o ônibus parar no ponto, uma luz verde será acesa logo acima da porta, mas a porta não irá abrir. Isso acontece pelo fator segurança, para que a porta não abra à toa, a menos que alguém de fato deseje sair. Em algumas cidades, é preciso descer um degrau para que o sensor localizado sob o chão permita que a porta abra; em outras, é necessário dar um leve empurrão no centro da porta onde normalmente ficaria a maçaneta.
Metrô
As linhas de metrô no Canadá são bastante amplas, e as estações sempre estão perto de pontos de ônibus para que a viagem do passageiro seja facilitada ao máximo.
As estações de metrô, diferentemente dos pontos de ônibus, têm caixas automáticos específicos para a venda de passagens (e também é comum encontrar caixas automáticos tradicionais, ATMs, onde você pode sacar dinheiro), que normalmente aceitam dinheiro, cartão de débito e cartão de crédito. Mas é preciso saber utilizar.
Em Vancouver, por exemplo, existem 3 zonas para as quais você pode ir de metrô, cada uma com um preço diferente para a passagem. Cada zona corresponde às cidades vizinhas que fazem parte da Metro Vancouver. Se você vai, digamos, do centro para Richmond, mesmo que pretenda descer na primeira estação de Richmond, não importa: é preciso comprar a passagem para a zona 2.
Além disso, cada cidade oferece a sua versão econômica para as passagens: passe mensal, passe diário, passe semanal. Todas essas informações estão disponíveis nos sites das operadoras de trânsito das diferentes cidades, e é uma boa ideia dar uma olhada antes de sair de casa – ou do hotel.
Para o transporte público, independentemente de ser ônibus ou metrô, é uma questão de educação deixar a mochila no chão, entre os pés, mesmo que o vagão ou o ônibus não esteja lotado. Além de liberar espaço para mais uma pessoa, essa prática facilita a entrada e a saída das pessoas, que não precisam ficar desviando de mochilas ou perder sua estação porque alguém estava bloqueando a porta.
Ah, mulheres grávidas, com bebê, idosos, pessoas com deficiência, sempre têm a preferência. Quem já veio para cá com certeza já viu a cena em que dois ou mais canadenses saem de seus assentos para oferecer o lugar quando chega um idoso.
Pedestres
Pedestres são muito comuns no Canadá, talvez mais do que no Brasil, onde, em algumas cidades e bairros, evitamos andar na rua por questão de segurança. Por aqui ser pedestre é a norma, principalmente para quem mora ou trabalha em regiões próximas ao centro das cidades.
Pedestres devem sempre andar do lado direito, seguindo a regra dos carros. Embora isso nem sempre seja respeitado nas calçadas, é uma regra de ouro para as escadas e escadas rolantes, assim como para calçadas e corredores mais estreitos. Essa regra simples todo mundo respeita, e faz com que o caos dos horários de pico seja muito menor em comparação ao que estamos acostumados a ver no Brasil.
Para escadas rolantes, a sacada é que quem está com pressa pode descer ou subir mais rápido pelo lado esquerdo, já que quem não está com pressa fica do lado direito.
Nas grandes cidades, especialmente nas regiões centrais, os pedestres têm seu próprio semáforo, que é respeitado, e, claro, a faixa de pedestres. A maioria das cidades brasileiras também têm isso, mas nem sempre é respeitado, já que no Brasil é comum atravessarmos a rua assim que seja possível, e nem sempre ligamos para o sinal verde dos pedestres, já que prestamos mais atenção aos carros. No Canadá é diferente. Mesmo que não esteja vindo carro de nenhuma direção, se o semáforo dos pedestres estiver fechado ninguém atravessa. Atravessar no sinal vermelho ou no meio da rua gera multa, e ninguém está disposto a levar uma multa por ser um mau pedestre.
Ciclistas
As ciclovias no Canadá são muito populares, e a bicicleta por aqui é considerada um meio de transporte, além de ser um artigo esportivo e uma brincadeira para as crianças. A coisa é levada a sério, e tem infraestrutura para isso.
Assim como os pedestres, os ciclistas devem respeitar o seu próprio semáforo. Além disso, é preciso dar sinal para tudo o que for fazer, como se fosse um carro. Com o braço esquerdo estendido, ele sinaliza que vai virar à esquerda na próxima rua; com o braço esquerdo dobrado, ele irá virar à direita. O braço para baixo significa que ele irá parar. Luzes são obrigatórias para dias escuros, chuvosos ou para o período da noite. Roupas de material reflexivo são recomendadas. Para algumas cidades, capacete.
Quando não há ciclovia, o ciclista tem direito a usar uma das pistas normais da rua, ficando sempre mais próximo do lado direito (ou esquerdo, caso deseje virar à esquerda) mas ainda assim distante da calçada o suficiente para que os motoristas possam vê-lo. Falando nisso, em algumas cidades é ilegal andar de bicicleta nas calçadas.
Embora os ciclistas precisem estar sempre atentos à sinalização (tanto própria quanto dos carros ao seu redor), eles devem ser respeitados. Isso significa que têm preferência sobre os carros (mas devem dar preferência aos pedestres), e motoristas correm o risco de serem multados caso não respeitem essa regra. Isso também vale para quando o motorista estaciona próximo a uma ciclovia: ele deve olhar para os lados antes de abrir a porta do carro.
A IMMI QUER SABER
Você já veio para o Canadá ou está por aqui? O que mais chamou a sua atenção sobre o trânsito?
Links úteis:
Translink (Vancouver) http://www.translink.ca/
TTC (Toronto) https://www.ttc.ca/
Calgary Transit http://www.calgarytransit.com/
Winnipeg Transit http://winnipegtransit.com/en
Saskatoon Transit https://transit.saskatoon.ca/