O que muda no país depois de mais de um ano morando fora? Quais são as impressões do Brasil? Geralmente pouca coisa, mas ao mesmo tempo um abismo se forma entre nós e o país de origem. Não porque a terra natal se transformou, mas sim pela razão de que nós mudamos e evoluímos e estas coisas acontecem em uma escala sem precedentes.
Nada se compara ao amadurecimento pessoal que um ano morando fora pode trazer. A gente sai completamente da nossa zona de conforto, a gente arrisca, quebramos a cara e nos levantamos, enfrentamos dificuldades, nos superamos e, ao mesmo tempo, vivemos os melhores momentos de nossas vidas. O novo, o conhecer o desconhecido e explorar uma nova região pode ser extremamente prazeroso para quem tem gosto por mudanças. Quem se arrisca a imigrar deixa para trás milhares de coisas e conquista tantas outras pelo caminho. Não é fácil, mas é recompensador e extremamente gratificante.
Pensando em todo esse processo, como olhamos para o Brasil depois de pouco mais de um ano morando fora? Vamos tentar responder neste artigo. Fomos para a terra calorosa depois de 14 meses de Canadá e o impacto é sempre grande, confira uma lista com destaques positivos e negativos abaixo.
Um dos grandes impactos de quem mora fora, principalmente quando falamos em um país de economia e política desenvolvidos como o Canadá, e volta para o Brasil para passar um tempo, é a diferença de organização e o funcionamento de serviços básicos.
Já conseguimos notar os primeiros sinais no aeroporto e no desembarque dos passageiros. No Canadá nunca presenciamos, em diversas viagens de avião, a troca de portões com frequência, se ela é feita ocorre com antecedência e as informações são coerentes nos visores espalhados pelo local. No Brasil, tanto na escala doméstica de ida quanto na volta, a atendente da companhia aérea nos passou um portão, o telão mostrava outro número e o embarque acabou acontecendo ainda em outro local.
Além disso, o que notamos foi também a forma organizada com que acontece o desembarque e embarque nos aviões quando estamos nos Estados Unidos ou Canadá. A maioria costuma respeitar a sua zona de embarque, entrar em filas organizadas para isso e dar prioridade a quem precisa. Dessa maneira, a entrada no avião acontece de maneira mais rápida e em setores. No Brasil a organização dos procedimentos de embarque deixou a desejar, incluindo atrasos nos aviões, empurrões e informações desconexas passadas pelos atendentes.
Quando vivemos muito tempo no Brasil, acabamos não percebendo o quão enlouquecedor é o trânsito nas grandes cidades. Para se ter uma ideia, segundo estimativas divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o país apresenta uma taxa de 23,4 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes, o que o coloca no quarto pior desempenho entre os países das Américas.
Descobrimos que dirigir em países como Canadá e Estados Unidos é muito mais fácil. Além dos carros serem automáticos como item de série, as estradas são melhores conservadas, as ruas possuem poucos ou nenhum buraco, quase 100% das regiões têm calçadas para pedestres e o espaço para o seu carro é muito maior, tanto nas faixas de circulação nas avenidas como nos estacionamentos.
As diferenças nesse quesito são muitas, porém existe um ponto para o Brasil aí. Devido ao pouco espaço existente nas vagas de estacionamento, os brasileiros conseguem estacionar muito melhor e com mais habilidade que os canadenses, que quase não fazem uma baliza ou estacionam de ré. Além disso, vemos uma estrutura muito maior para pedestres e ciclistas no Canadá, onde existem diversas ciclofaixas e calçadas em ótimo estado de conservação.
Aqui eu costumo contar vários pontos ao Brasil, menos no que diz respeito ao valor das coisas no supermercado ou a um preço de um prato em um bom restaurante. Porém, quanto a forma de se alimentar e aos hábitos alimentares, os brasileiros fazem isso de forma mais saudável e nutritiva que a maioria dos canadenses.
Talvez a maior diferença esteja no aspecto alimentação saudável. Quando imigramos ou vamos morar um tempo em outro país, uma das coisas que devemos fazer é tentar inserir a si próprios na cultura estrangeira, abandonando alguns antigos hábitos para que a experiência seja vivida da forma mais plena possível. Mas quando se trata de Canadá e Estados Unidos, entrar na rotina de fast food não é algo tão fácil para quem tenta manter uma alimentação balanceada. Embora existam quase todos os ingredientes vendidos no Brasil também no Canadá, o consumo de refrigerantes, salgadinhos, hambúrgueres, doces e snacks é muito maior.
Para comparar, no Canadá cerca de 21 % da população com mais de 18 anos é obesa. Enquanto isso, no Brasil, a mesma faixa etária tem 17% de obesidade. Também deve ser levar em consideração que a forma de se alimentar é diferente (confira 20 comidas típicas canadenses clicando aqui). Os canadenses fazem um lanche ou uma pequena refeição na hora do almoço e as refeições mais importantes do dia são o café da manhã e o jantar.
Claro que, assim que chegamos ao Canadá, achamos a maioria dos preços elevados, pois ainda não ganhamos em dólar e o real é uma moeda bastante fraca perante ao dólar canadense. Porém essa impressão muda com o tempo, assim que o imigrante começa a trabalhar.
Primeiro que a conversão não deve ser feita. O certo a se fazer é comparar o poder de compra do salario mínimo brasileiro e canadense. Nem preciso falar que a diferença é gritante, pois enquanto o valor no Brasil gira em torno de R$ 1.000,00, no Canadá isso chega aos $ 1.900,00 CAD, o que dá a população maior poder de compra e possibilidade de viver em um lugar com menos desigualdade social, levando também em consideração que nas terras do “True North” os cidadãos não precisam desembolsar com saúde básica, segurança e educação para os filhos até eles chegarem na faculdade.
Então assim que chegamos no Brasil e vamos a um restaurante, quase temos um infarto quando descobrimos que uma porção de fritas da casa custa R$50,00, pois sabemos que poucas pessoas tem condições de arcar com o valor.
No Canadá também existem ruas um pouco menos limpas, mas não podemos comparar com o Brasil de forma alguma, ainda mais quando falamos do momento de crise econômica e política que assola o país. Porém desde limpeza de terrenos e jardins públicos, até a questão de pichações e conservação do patrimônio da sociedade, os canadenses ganham de lavada.
Com certeza existem lugares bonitos e limpos no Brasil, mas eles são a minoria quando comparamos com a falta de infra estrutura e manutenção que existe em boa parte do país.
Aqui não existe pior e nem melhor, mas somente a cultura de cada país. Brasileiros falam mais alto, gritam, crianças e cachorros são mais agitados e o povo é mais enérgico. Os canadenses são bastante comedidos, até no que diz respeito a festas e crianças, costumam falar baixo e com um tom de voz mais constante.
Neste tópico também entra a maneira de se vestir, o modo de organizar o dia e fazer as refeições, os costumes, os feriados e os gostos de cada povo. Mas é sempre um choque quando você ouve, durante muito tempo, pessoas na rua falando somente em inglês e com um tom de voz ameno, de repente vir ao Brasil e ouvir português com o tom enérgico característico.
Talvez uma das coisas mais estranhas seja o fato de poder vender bebida alcóolica no Brasil em postos de gasolina, o que acaba se tornando uma imensa incoerência, pois a bebida não combina com direção. Embora na maior parte do Canadá não seja possível comprar os itens fora das lojas destinadas a venda de alcóolicos, os canadenses também não podem beber em ambientes públicos e aglomerações. Lá também a venda de bebidas em estádios é limitada na questão de tempo do jogo e quantidade de doses.
Além das bebidas, temos diversas diferenças: leis de trânsito, quantidade de papelada para abrir uma empresa ou emitir uma nota fiscal, sistema bancário, dentre outras.
Fabíola Cottet