Além de todas as despedidas de amigos e familiares, tivemos que encarar também a despedida da escolinha no Brasil. Foram quase 3 anos em uma escola excelente, com ótimos professores e amiguinhos fantásticos. A escola preparou um livro de despedida com as fotos de todos para que minha filha pudesse guardar como lembrança. Mas, como se prepara a mudança de escola de uma criança de 3 anos? Qual será a melhor forma? O que será que ela entende dessa mudança toda? Difícil responder. Mas, uma coisa eu teria feito diferente: teria investido mais no inglês dela enquanto estávamos no Brasil.
Desde o Brasil comecei a pesquisar todas as opções de daycare e escola pública. Descobri que aqui em Ontário as crianças só tem direito a escola pública à partir dos 4 anos completos durante o ano letivo. Portanto, se seu filho completa 4 anos até 31 de dezembro, ele poderá iniciar o ano letivo em setembro mesmo sem ter os 4 anos completos. Ele entrará no Junior Kindergarten de uma Elementary School. No nosso caso, a Letícia tem 3 anos e a única opção era mesmo o daycare.
Comecei a pesquisa sobre daycare e descobri que existem diferentes tipos:
Pedi referências de algumas pessoas que conhecia aqui e optei por testar um daycare que fosse dentro de uma escola. Dessa forma, eu não teria que fazer duas adaptações. Algumas escolas aqui possuem daycare e possuem também os programas chamados before e after school. Como as escolas tem um horário aproximado de estudo das 9am às 3pm, os pais que trabalham acabam optando pelos programas before e/ou after para seus filhos (que funcionam à partir das 7am até as 6pm). Nesse caso, a escola é pública e você paga pelo tempo adicional que seu filho passa lá.
Para escolher a escola, você tem as opções de católica, laica, algumas com ensino em francês e existem também as escolas privadas mas, pelo preço, não daria para encarar. O ano letivo da escola católica vai do início de setembro ao final de junho. A matrícula oficialmente é feita em janeiro para garantir a vaga mas pode ser feita em qualquer outro momento, caso necessário. As férias são julho e agosto e eles seguem todos os feriados católicos. Além disso, há um recesso antes do Natal com retorno após o réveillon e outro de uma semana em março. O ideal é pesquisar o ranking das escolas. No caso da Letícia, estamos optando por uma escola católica que, no ranking de 2013/2014 ficou em 5o lugar. É importante analisar se a escola já esteve no topo por alguns anos, mesmo que não tenha sido eleita como uma das melhores no ano anterior. Consistência!
Fonte: Fraser Institute
Uma informação muito relevante é que, aqui em Ontário as escolas possuem as vagas para as crianças que moram perto da escola. Também conhecido como “boundary”. No nosso caso, pela região que moramos a Letícia tem direito à uma vaga na escola St. Andrew Catholic Elementary School . Ou seja, se você quer que o seu filho estude na escola “X”, você precisará morar dentro do boundary estabelecido para aquela escola. Caso contrário, você poderá solicitar um boundary review e tentar uma vaga em uma escola que não esteja dentro do perímetro da sua casa. Nesse caso, é preciso preencher um formulário com a justificativa e enviar para o centro responsável (no nosso caso, o centro responsável é o Halton Catholic District School Board .
Existem também aqueles ônibus amarelos para levar as crianças para a escola (iguais aos filmes mesmo). Mas, existe uma regra para utilização desses ônibus:
Já com todas essas informações, começamos a buscar o daycare e uma casa pra morar. No caso da casa, o mercado em Oakville é muito rápido. Não adianta você escolher a casa dos seus sonhos pela internet pois provavelmente ela não estará disponível quando você chegar aqui. Fui então atrás do daycare para depois resolver onde morar.
Uma amiga enviou um e-mail para a diretora da escola onde a filha dela estuda explicando a minha situação e ela deixou a vaga da Leticia reservada. Quando chegamos, fui até a escola para entender como tudo funcionava e fizemos um teste de 3 dias. Cada dia a Leticia passava mais tempo no daycare. Ao final do 3o dia fiz a matrícula. Eu pensei que, com o passar dos dias ela se acostumaria com aquele mundo novo, com a língua nova. Mas, não foi assim. Ela chorava desde o minuto que acordava para não ter que ir para a escola. Foi péssimo. Cada dia que eu a deixava na escola era uma tortura para nós duas. Eu, como mãe, tinha que incentivá-la e me mostrar forte e confiante mas, cada vez que eu saía da escola, desabava. Mas, o que fazer? Será que o problema era a escola? O inglês? A saudade das pessoas que ficaram no Brasil?
Resolvi insistir mais um pouco, dar tempo ao tempo e foi piorando ao invés de melhorar. Cada vez que ela chegava na escola vomitava de tão nervosa que se sentia. Decidi então procurar outro daycare que tivesse alguém que entendesse pelo menos a língua dela. Visitei um que tinha uma professora portuguesa mas era muito longe. Com a ajuda de outra amiga, encontrei um daycare próximo de casa que tinha um menino brasileiro, da mesma idade da Letícia. Consegui o contato da mãe dele e arranjamos um encontro. Os dois se deram muito bem e resolvi fazer um novo teste. Dessa vez, fizemos a adaptação com mais calma. Nos primeiros dias ela ainda ficava muito nervosa mas, com a presença do novo amigo foi se sentindo mais confiante. Foi recebida também com muito carinho pelas professoras. Aos poucos ela foi se soltando e, após 2 meses de escola, já conseguia se expressar e tentar algumas palavras em inglês. Com 3 meses já corrigi as palavras que a mãe pronuncia errado. Imagine como será em 10 anos?