Talvez tenha sido pela minha filha. Talvez pelo caos de São Paulo. Ou pelo medo da violência. Talvez tenha sido só aquela comichão para conhecer um novo lugar, uma nova cultura, pessoas diferentes. Talvez tenha sido tudo isso junto.
Meu nome é Aline, tenho 34 anos. Nasci em Campinas (perto de São Paulo) e hoje moro em Oakville, uma linda cidadezinha, muito tranquila, próxima à Toronto. Sou casada , tenho uma filha de três anos, a Letícia, e há um ano atrás tomei a decisão, junto com o meu marido, de sair do Brasil e viver no Canadá.
A ideia na verdade é mais antiga. Desde 2007 tenho pesquisado sobre o Canadá e os diversos processos de imigração, college e intercâmbio. Naquela época o plano era Vancouver para não passar tanto frio. No final daquele ano me formei. Uma coisa puxou a outra, consegui um emprego em São Paulo e acabei me mudando pra lá. Através deste emprego acabei me mudando para a Colômbia em 2008, depois foi a vez do México em 2009 e em 2010 voltei para o Brasil.
Para algumas pessoas, morar fora do Brasil parece despertar algum monstrinho dentro da gente que estava adormecido. A impressão que tenho é de que ele nunca mais volta a dormir. É um click! Te faz pensar que há vida fora da caixinha, muitos lugares para explorar e outras culturas para conhecer.
O tempo passou, a Letícia nasceu e foi aí que comecei a repensar sobre a vida de novo. O que seria melhor pra ela? Crescer no Brasil? Perto dos avós e dos tios? Ou ter uma vida mais segura e com melhores oportunidades em outro lugar? Um outro lugar onde não há tanta violência, as crianças brincam nas ruas igualzinho fazíamos quando éramos pequenos no interior de São Paulo.
No final de 2012, com a Letícia pequena, resolvemos visitar o Canadá após recebermos um convite de nossos amigos brasileiros que moravam aqui. Foi um teste sem compromisso mas eu queria conhecer a neve e o temível inverno que todos falam por aqui. Ok, não foi tão ruim como eu pensava. Foram 15 dias conhecendo algumas coisas por aqui mesmo em Oakville.
De volta ao Brasil, entramos em 2013. Um ano difícil. Muito trabalho, muito trânsito, fiquei muito doente e estressada. Quase não via minha filha de tanto que trabalhava.
Em 2014 o monstrinho inquieto voltou a aparecer: “temos que fazer alguma coisa, temos que mudar essa situação.” Foi então que decidimos dar entrada ao processo de imigração. Pensamos então “se formos aprovados daqui há alguns anos a gente resolve o que faz.” Mas, na prática, foi tudo muito rápido. Processo recebido pelo governo canadense em dezembro de 2014. Aprovação do processo no final de maio de 2015. Embarque em 08 de julho de 2015. E aqui chegamos!
A partida foi muito difícil. Vender todas as coisas, doar muita coisa e a pior parte: dizer “tchau!”. A maioria das pessoas não entende o que você está fazendo. Elas não acreditam que você é capaz de deixar tudo para trás para tentar uma vida melhor. Elas não entendem que você vai deixar toda a sua família lá para fazer com que a sua família seja feliz aqui. Como podem largar tudo para ir para um lugar desconhecido, sem emprego?
Na verdade, muitas dúvidas sem respostas. É simples, temos esperança e queremos agir agora por um futuro melhor. Assim como nossos bisavós, que saíram da Itália e de Portugal e subiram em um navio há mais de 100 anos rumo ao desconhecido. Sem nada! Sem dinheiro, sem Skype, sem a possibilidade de poder voltar. Apenas em busca de uma vida melhor.